musica

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

"Eu não pedi pra nascer, eu não nasci pra perder, nem vou sobrar de vítima das circunstâncias. Eu tô plugado na vida, eu tô curando a ferida... E a gente vai à luta e conhece a dor, consideramos justa toda forma de amor..."


"Os efeito colaterais da quimioterapia são horríveis, só posso te dizer isso...", 
"a sala de quimioterapia cheira morte, sabe aquele cheiro de velório? É o mesmo cheiro", 
"Quando você está fazendo quimio um poço se abre ao seu lado, dá muita vontade de pular", 
"Xiiiiiiiiiiiii seu câncer é no osso??? Nossa o osso tem uma linfa (ãm?) que percorre por dentro, se for vai se espalhar...",  
"Te vi estes dias na Unimed mas nem fui te cumprimentar porque pensei que não fosse você, você era tão bonita e magrinha, pensei que fosse outra pessoa..."

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

...Mandado foi ao Vietnã Lutar com vietcongs... Ratá-tá tá tá... Tatá-rá tá tá... Ratá-tá tá tá... Tatá-rá tá tá... Ratá-tá tá tá... Tatá-rá tá tá... Ratá-tá tá tá...

Esqueça qualquer tipo de post engraçadinho, o que vou narrar agora é uma história verídica de dor e lágrimas, cuja protagonista sou eu. Sugiro como fundo musical alguma coisa do tipo Kennedy, e ainda advirto, caso esteja sofrendo de depressão é melhor não ler este post.
A história se dá quando a moçinha aqui precisa fazer um exame de ressonância magnética, até aí problema nenhum, é apenas um exame. Ainda mais para mim que sou valente, destemida. O que é um exame destes, além de uma simulação de te colocarem viva em um caixão em plena guerra mundial?
Com o exame marcado a dias, fui fazendo um trabalho psicológico: largamão de ser bundona Aline... todo mundo faz... para de choro agooooooraaaa... não tem alternativa.... sai da janela, não pula não pula...
E lá vamos nós, eu e minha mãe. Primeiro ponto, não entendi porque pra fazer um exame do ombro eu preciso estar em jejum?
Eu já fiz este exame uma outra vez, então parecia ser muiiito simples, cheguei lá e  a recepcionista fez a seguinte pergunta: - Você já fez este exame antes? E quando eu respondi que sim, o semblante da moça relaxou em sinal de ufa eu lembraria da sua cara se tivesse feito escândalo antes
Estava tranquila porque nem eu mesma lembrava de como foi o exame anterior então deve ter sido tranquilo, senão eu lembraria. 
A enfermeira vem me buscar: - Quer que sua mãe vá junto? 
- Nãããão não precisa, pode ficar aí que este exame é tranquilo! 
Fui levada para uma sala e a enfermeira fez perguntas do tipo: do que você é alergico, onde dói e tal. Uma coisa eu notei, tem poucas linhas no campo cirurgias anteriores, antes eu só colocava uma de desvio de septo que fiz a anos e nem sei se é tão relevante para um exame no ombro, mas sempre colocava ela, agora as linhas já estão poucas!
Ainda durante a entrevista a enfermeira me perguntou: 
- Você tem medo de ficar fechada? 
Respondi logo: - Nãããão! Eiiii sou eu Aline, a destemida lembra? Você não se lembra de mim no último exame se lembra? Então é porque não dei trabalho, sou do tipo, relaxada!
Sinceramente, eu só podia estar fora do meu corpo, não tem outra explicação, sempre tive medo de ficar fechada, uma vez fui na confissão comunitária na catedral e eles fecharam todas as portas, eu tive um ataque de nervo e tive que sair correndo porque o ar foi inalado por todas aquelas pessoas egoístas e eu fiquei sem! Quando achei o tal do sacristão eu já estava roxa ele não entendeu nada, mas por via das dúvidas nem pestanejou em deixar a louca sair da igreja, naquele ambiente fechado ele pensou que eu pderia causar danos a outras pessoas e ninguém ver! Nunca mais fui em confissão comunitária lá!
Voltando ao exame, entrevisa feita, eu tive que colocar uma roupa azul, me senti a protagonista de Grey's anatomy pronta pra executar uma cirurgia, a própria médica. A brincadeira acaba quando eu tive que deitar em uma maca, como o exame é no ombro, é ele quem tem que ficar no meio da maca, por isso tive que tratar de me equilibrar nos 15cm que sobra, os enfermeiros me equiparam com um negócio que parece uma armadura, me ataram inteira com fitas e velcro, dizem que é para não ter o perigo de me mexer, mas, mais tarde tudo isso irá fazer sentido.
Até aí eu estava lá toda pimposa e comunicativa, até que vem outro enfermeiro pega minha mão e começa a analisar minhas veias, como de costume e como sempre faço, eu alertei ele que meu acesso venoso é difícil, mas não sei, nunca me escutam, acho que acontece uma competição interna entre os enfermeiros, quando o paciente diz que a veia é difícil é como se chacoalhasse uma bandeira quadriculada e desse a largada para o jogo, ganha quem pegar sua veia primeiro, e você passa a ser um tabuleiro! Eu tenho até uma dúvida, acho que o rapaz não era enfermeiro, suspeito que era um açougueiro, aliás, certeza que era um açougueiro!
Ele olhou pra mim e disse: 
- Será que é difícil mesmo? Você tem uma veia ótimaaaaa na mão (nesta hora ele estava tentando desconcentrar os outros competidores).
A enfermeira 2 diz: 
- Quer a agulha mais fina? 
- Não, a veia dela é boa! 
E nisso eu lá toda atada na maca. Ele pega  a agulha, todos os outros competidores ficam em volta fazendo figa pra que dê errado para que também tenham sua chance, o enfermeiro dá uns tapinhas, bota a língua pra fora como quem faz força, cerra os olhos, te fura e procura e cavuca e cavuca de novo, não vou dizer que fiquei me debatendo, isso porque eu estava atada, este é o sentido 1 disso. Quando achei que ele tinha conseguido acesso no pé através da veia da mão ele vira e fala assim: 
- Sua veia é fraca né? 
Este é o motivo 2 para estar atada, é para manter a integridade dos açougueiros que procuram sua veia. 
- E agora? Que dor filho de uma boa mãe! 
Enfermeiro 1: Não tem problema, quando for preciso injetar o contraste pegamos sua veia na hora. 
No fundo escutei as gargalhadas de sarcasmo dos outros competidores, um já havia sido eliminado.
Game over pra ele...
Na hora? Tinha esta alternativa? Em qual veia já que não se contentando em detonar com a veia que queria ele pra não deixar alternativa pros outros competidores detonou todas as outras, maior jogo sujo!
Depois de quase ser desossada pelo açougueiro, fui levada para a sala do exame, colocaram um protetor em meus ouvidos, muito delicada a enfermeira disse que o aparelho é um pouco barulhento, e que qualquer coisa era pra eu mexer o pé. E eu tinha outra alternativa a não ser mexer os pés? Os pés era a única parte do meu corpo que não estava atada.
Me colocaram dentro da máquina, primeiro fiquei tranquila, depois me imaginei fazendo um bronzeamento artificial, pensei em dormir, e um silêncio pairava... Até que começa um pagodinho leve, depois vem um cavalo em um trote, o cavalo começa a correr e te leva pra um paredão de fuzilamento e tótotótooótó´toótrórrrrrróóóroooo. Pronto, começou, tocam pagode enquanto o cavalo dança e te fuzilam, e ainda cade o ar? Meu Deus cade o ar? Tiraram o ar daqui? Socorroooooooooo! 
Lembrei de mexer os pés e uma voz fala calmamente: 
- O que foi Aline? 
E eu aos prantos, escandalosamente respondo: 
- Socorro me tirem daqui! Vou morrer! Não quero morrer! Devolve o ar seu filho da mãe! Espera só eu sair daqui pra você ver, eu mato este cavalo, o pagodeiro e o açougueiro! 
Eles não tiveram outra alternativa a não ser me tirarem de lá, uma pessoa muito calma me fala: 
- Quando estiver pronta voltamos com o exame! 
Nunca vou estar pronta pra ser fuzilada, pior, fuzilada sem ar? A porcaria do negócio que vai na orelha não serve pra nada! Eu tinha que voltar pro exame né, porque sou adulta e destemida... Fiz o cara jurar que ia ficar ali, e ainda ameacei que se ele fosse embora e me esquecesse ali eu voltaria com meu próprio cavalo, fuzilaria ele, sem pagode, minha vingança seria ao som de Restart!
E o tróoóóóóó continuou, imaginei que eu estava em um avião, aviões não tem janela e o ar não acaba. Passou sei lá quanto tempo até que aparece a enfermeira 2 com uma agulha infantil e pega uma veia do braço na maior calma aplica o contraste e pronto... pronto? Como assim pronto? Vou matar aquele açougueiro!!!! 
Agora me expliquem, se tem uma alternativa melhor porque começar com a pior? 
Conclusões:
- Açougueiros não podem trabalhar em área de saúde, cada um no seu quadrado.
- Te atam com a desculpa que é para não mexer, mas a verdade é outra.
- Conclusão nenhuma quanto ao jejum.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

..I gotta take a little time. A little time to think things over, I better read between the lines in case I need it when I'm older...

   A vida realmente é um grande paralelo, acredito que vivemos várias vidas em uma grande vida, e como um bom texto cada vida possui meio, começo e fim. O caminho que traçamos, os planos que fazemos percorrem por caminhos cruzados e a direção sempre nos leva a uma forma de vida, a uma nova vida dentro da grande vida. E o que poderia ser péssimo não é tão ruim, o que é ótimo pode ser bom ou irrelevante, tudo depende da forma como estamos enquadrados em nossa história e pontualmente na vida em que vivemos, no momento em que pensamos ou da forma em que melhor pode ser vivida...

Meu cabelo, minha nova imagem no espelho. Os lenços, suas cores, suas variações.

O desânimo, o corpo dizendo não. O descanso, o corpo dizendo sim.

O trabalho, a carreira, ficar presa no conhecimento profissional passado. A disponibilidade, tempo para coisas novas, para novas idéias, a reciclagem.

A quimioterapia, o hospital, os enjoos, as cirurgias. A cura, a riqueza da ciência.

O olhar de piedade, a dó, as conversas maldosas. O carinho, as preces em silêncio, sorrisos doces e as lágrimas de emoção.

A preocupação, o medo. Deus.

As alterações do organismo, os quilos a mais, os corticoides. Mais tempo para exercícios, a oportunidade de melhorar o estilo de vida, mais água, menos gordura.

As decepções, a exclusão, os preconceitos, as inverdades. As surpresas, a inclusão, as proximidades e as verdades.

A descoberta de falsas amizades. A descoberta de possuir muitos amigos.

Menos cílios, menos sol, pele ruim. Mais Dior, mais proteção, o amor pela maquiagem.

Família com amores a distância. Família com amores próximos.

A revolta. A prece.

Projetos interrompidos. Novos projetos.

   Para todo sim tem seu não, mas para todo não tem seu sim, seu talvez, o pode ser e o prefiro este, por pior que a situação possa parecer um leque de hipóteses se abre, e não trata de conformismo não, trata-se de novas escolhas, novas saídas.
Deus dá o veneno, mas junto dá o antidoto, basta tomar a dose diária.

" Com as perdas, só há um jeito: perdê-las.
Com os ganhos, o proveito é saborear cada um como uma boa fruta da estação." Lya Luft








terça-feira, 10 de julho de 2012

"...Eu tenho preguiça de me acordar Preguiça de me levantar Eu tenho preguiça de me esforçar Preguiça de ir trabalhar Preguiça Moleza, uô, uô..."

As pessoas dizem que temos dentro de nós uma criança, mas quer saber? A criança que existe dentro de mim cresceu e se tornou uma adolescente, daquelas adolescentes do tipo " já vou" ou "estou indo" e que nunca vai ou chega onde deve ir ou faz o que deve fazer, esta adolescente está obesa, adora um video game, tem um sono que dói e uma fome que mata e quando o meu 'eu' adulto diz vai Aline a praga da adolescente diz: "já vou...", "amanhã eu faço", e meu eu adulto até insiste, um empurrãozinho aqui e outro e outro mais, mas a adolescente é persuasiva e as vezes histérica quer sair e bater a porta, mas daí ela se confrontaria com o adulto que existe em minha mãe daí acabou a brincadeira! 
Todo este blá blá blá só para dizer que estou na maior preguiça, estava com preguiça de vir aqui e dizer que estou com preguiça, sempre eu tenho um "'daqui a pouco eu vou" para mim mesma, me sinto como se estivesse com 15 anos, as minhas preocupações são as mesmas de quando tinha esta idade: nenhuma! E isto me dá um sono e uma vontade de não fazer nada, eu poderia vir aqui e dizer que a quimioterapia me deixa assim, mas coitada da quimioterapia, ela não me deixa assim... A falta do que fazer me deixa assim, o frio me deixa assim, a preocupação zero me deixa assim. Coisas para fazer até posso arrumar, mas coragem de ir fazer ahh esta está faltando, por isso passei estes dias sem atualizar o blog, até tiveram alguns assuntos mas sempre tinha a tal preguiça que me segurava pelos pés! 
Qualquer atividade que precise de um mínimo de esforço eu prefiro deixar pra lá, prefiro que me levem do que eu mesma ir, prefiro pronto do que por fazer, estou avessa a qualquer tipo de esforço seja físico ou mental.
Estou na minha fase dinamismo 1 e produtividade 0. 
Mas e aí doutor como vencer esta preguiça? - Acho que seu problema é crônico!
Não vou dizer que o ócio é ruim, não posso ser hipócrita em meus prazeres, sei que uma hora vou me cansar disto, mas por enquanto vou aproveitar o máximo, aproveitar para não fazer nada.
Albert Camus, escritor e filósofo francês disse que "São os ociosos que mudam o mundo porque os outros não tem tempo algum”. Bom, tempo eu tenho, só me resta coragem para mudar o mundo.

“Pasmo sempre que acabo qualquer coisa. Pasmo e desolo-me. O meu instinto de perfeição deveria inibir-me de acabar; deveria inibir-me até de dar começo. Mas distraio-me e faço. O que consigo é um produto, em mim, não de uma aplicação de vontade, mas de uma cedência dela. Começo porque não tenho força para pensar; acabo porque não tenho alma para suspender. Este livro é a minha covardia”. Livro do Desassossego, Fernando Pessoa.


Espero que não tenham tido preguiça de ler...

Boa noite!!




sábado, 9 de junho de 2012

"Um anjo do céu, que me escolheu, serei o seu porto, guardião da pureza..."



Anteriormente em Diário de uma Vitória:
A vida corria tranquila, poucos enjoos, algumas sessões da tarde, até que domingo 4:00hs da madrugada a bolsa estorou, calma não a minha, a da Gisele:
Telefone: Triiiimmmmm
Pai: Oi ãh ééééé noooooossssaaa aham aham vixe é sei tá tá tchau
Eu: Morri!
Eu ressuscitada: Pai quem era?
Pai: A Gigi...
Eu: Como assim a Gisele esta hora????????? Morri de novo!
Pai: A Laura vai nascer!
Eu: PeloamordeDeus como assim vai nascer???? Não é hora de nascer! morriressusciteimorriressuscitei piripaque nervoso lucidez lucidez
Celular: Triiiiiimmmmmmmmm / Caixa Postal
Celular: Triiiiiimmmmmmmm
Thiago: Ãmmmmmm
Eu: O que que você está fazendo????
Thiago: Dormindo!
Eu: ACORRRRDA A LAURA VAI NASCER???
Thiago: Ué não é para o mês que vem? 
Eu: ERA...
Thiago: Ah tá... Então dorme amanhã a gente liga pra Gisele, beijo!
Celular: Triiiiiiiiiiiiiiiim
Thiago: Ãmmmmmmmmm
Eu: QUAL A PARTE DE A LAURA VAI NASCER VOCÊ NÃO ENTENDEU? LEVANTA JÁ FIZ A MALA TEMOS QUE IR ANTES DO PARTO A MENINA NEM BERÇO TEM COITADA É SUA AFILHADA QUE FALTA DE CONSIDERAÇÃO (nesta hora acho que até ouvi um ronquinho do outro lado da linha) THIAGOOOOO ESTOU FALANDO COM VOCÊÊÊÊÊÊ!!!!!
Eu saindo com a Gisele e a Laura da maternidade
Thiago: Amanhã depois que o sol nascer, tranquilamente você irá acordar e iremos para Piracicaba OK? Agora sossega e dorme!

Nesta hora pensei em desmarcar o casamento, ligar novamente e terminar tudo, ou então pegar a chave do carro e ir sozinha, mas vi que o mais sensato foi ficar ligando para meu cunhado de 5 em 5 minutos e me manter informada para que não ocorresse nada sem minha tranquila, equilibrada e ponderada decisão! 
E foi assim que a Laurinha veio ao mundo, ela nasceu linda, cheia de vida e saúde e eu quase tive um parto aqui em casa também. Acabei chegando a conclusão que sou a pessoa mais apta a resolver problemas na família! 
A Pititica da Madrinha
Nem preciso dizer o quanto estamos felizes com a chegada da Laura, ela encheu a casa e nossa família com muita luz! Deus mais uma vez mostrou que quando entregamos e confiamos tudo em suas mãos ele direciona o melhor caminho e as coisas vão acontecendo de forma tão natural e vão se encaixando... Se a Laura nascesse na próxima semana eu estaria internada e tenho certeza que passaria a odiar estar lá e que isso iria me fazer muito mal, mas Deus sabia disso e arquitetou para que tudo se encaixasse...


E por falar em estar internada, segunda estarei lá para mais um bloco de quimio, e este será o divisor de águas, assim que terminar e que meu sangue estiver bom eu farei nova cirurgia, no mesmo local da anterior. O médico irá coletar amostras de osso para biópsia e verificar se ainda há células do tumor, perguntei a ele se ainda tem muito osso, ele disse que o suficiente para eu poder jogar volei, se eu levar em consideração a atleta que sou eu terei muito osso para muitas vidas!

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Vamos viver tudo o que há pra viver, vamos nos permitir!

Porque colocamos dor onde não haverá dor, porque nos apegamos aos fatos vividos por outras pessoas mesmo quando sabemos que cada um tem sua história? Nunca me perguntei sobre estas situações mas um cérebro ocioso pode desenvolver teses e tese para mim nada mais é do que uma proposição intelectual e como disse o filósofo penso, logo existo
Depois de aprender a lidar com o choque por ter recebido a notícia que tenho câncer eu tive que aprender a lidar com o choque das pessoas e talvez este seja o mais difícil pois eu mesma, caminhei até então com uma idéia muito inversa da que possuo hoje. 
Em Fevereiro quando descobri que uma pessoa querida tinha câncer, chorei muito, me coloquei em seu lugar e fiquei triste por ela e pelo sofrimento que ela poderia ter, e sem demagogias posso dizer que sofri muito mais pelo "possível sofrimento" que as vezes ela teria do que pela minha própria doença, mas por que isso? Como podemos ter medo de uma experiência que ainda não foi vivida?  Sofremos com o medo do desconhecido, damos a ele adornos e sentimentos possíveis e nada conclusivos e ficamos somente no "e se", e quando o problema passa a também ser seu, podemos ver em sua própria história o real potencial. 
Por isto acho que sempre a dor dos outros dói mais em mim do que a minha própria dor, porque desconheço o potencial da outra pessoa. 
Certamente posso dizer que sou mais forte do que pensava, de que sou muito resistente a minha dor e que a carga que ao meu ver era tão pesada para a outra pessoa pra mim é mais leve mesmo que seja tanto quanto pesada. É que olhem só a maravilha da vida: Consegui tirar os adornos do desconhecido. 
Isso meus amigos, se chama ganhar experiência, e se a vida fosse a calçada da fama eu hoje estaria orgulhosamente ganhando minha estrela.
A conclusão é de que temos apenas uma urgência, a urgência em viver, viver o que te dá prazer, viver o que te faz feliz e se isso vai gerar consequências, bom, aí é a parte do desconhecido e você terá que dar conta com o que possui de força dentro de você.


" Desistir… Eu já pensei seriamente nisso, mas nunca me levei realmente a sério. É que tem mais chão nos meus olhos do que cansaço nas minhas pernas, mais esperança nos meus passos do que tristeza nos meus ombros, mais estrada no meu coração do que medo na minha cabeça."
Cora Coralina



Besos!!!!


domingo, 27 de maio de 2012

Mas tudo passa, tudo passará. E nada fica, nada ficará. Só se encontra a felicidade quando se entrega o coração!

Quanta coisa aconteceu desde a última postagem, depois que percebi que nem havia falado que tinha sido internada e já disse que estava em casa, é que odeio causar preocupação nas pessoas e como estava sem coragem para escrever eu tive que ir direto ao que importa o estou bem!
Segunda-feira fui de mala e cuia para o hospital me internar para o segundo bloco de quimio, e tudo se repetia, pijamas na mala, lágrimas nos olhos, incertezas e saudades, e lá estava eu de novo e agora com um privilégio, o quarto dava de frente para a rua, assim eu podia ver o movimento lá em baixo e as pessoas em seus ritmos normais de vida, juro que cheguei a odiá-las lá de cima.
E o procedimento vocês já conhecem: 
Enfermeiro: o seu é catéter Port a Cath né?
Eu: Sim!
Agulha: PUF
Eu: Ai!
E assim fiquei lá, loooooongos dias se passaram, acho que um mês, não, dois! Tudo bem, saí na quinta a noite, mas parecia que já estava fazendo aniversário lá, já conhecia a vida dos enfermeiros, sabia quem eram os pacientes legais e quem eram os chatos. Fiquei sentida com a morte do Senhor do quarto 12, não conhecia ele, mas disseram que era excelente paciente... 
Comecei a pensar que provavelmente, e na grande maioria dos casos (espero eu), no hospital as pessoas morrem deitadas. Sendo assim, qual era a estatística de mortes no meu quarto? E no meu colchão? Será que alguém já tinha morrido lá antes? No hospital deveria ter esta estatística pregada na porta do quarto, assim quando o paciente chegasse e o direcionassem para algum quarto ele poderia saber o histórico daquele leito e especificamente daquele colchão... Vou deixar isso no quadro de sugestões!
Tive diversos desejos, passei o dia todo sonhando com milho assado, nunca comi milho assado, mas parecia ser ótimo comer milho assado aquela hora, no outro dia eu precisava urgentemente, assim como quem precisa de ar, de um pão crocante com uma fina fatia de presunto, no outro eu quis bolo de chocolate que minha madrinha faz, ahhhh este eu ganhei, foi o melhor bolo de chocolate da vida! O difícil foi que lógico que eu ia derrubar e lógico que foi justo no lençol do hospital, e explicar como que tinha bolo de chocolate no lençol do hospital não é muito fácil não... E no último dia tive desejo de biscoitinho, aqueles de saquinho do tipo impossível comer um só, o Thiago atendeu minhas preces e mandou pra mim.
A parte mais cruel do hospital foi a comida argh estou sofrendo só em escrever e ter que lembrar, eu juro, juro mesmo, e quem me conhece sabe disso, sou ótima de garfo, como até estanho se colocar um salzinho em cima, mas a comida do hospital... No primeiro dia foi bem, mas quando a vermelhinha começa a mostrar suas garras em meu organismo é quase que uma sessão de tortura ter que enfrentar aquela comida... Acho que não vou conseguir comer carne cozida em pedaço até a próxima vida, estou enjoada só de escrever isto. A comida de lá é levada em um carrinho, e só de eu ouvir o barulho das rodinhas do carrinho chegando em direção ao meu quarto eu tinha vontade de voar para o banheiro, parecia cena de filme de terror em que vai abrir a porta e um monstro pula em você, não exagerei, acho que foi bem pior do que isso. Tenho medo da próxima quimio, aliás, tenho medo da próxima refeição no hospital...

Os dias aqui em casa estão sendo tranquilos, hoje posso dizer que estou ótima, nos dias anteriores tive muito enjoo com cheiros e sentia uma tonturinha chata na cabeça. Mas hoje estou ótima!

Ontem raspei minhas curtas madeixas na máquina com pente 1, ficou suuuuuper curto, o Thiago disse que tenho um couro cabeludo bem bonitinho, bom não sei se teria jeito de ser de outro jeito, mas não é feio... Foi triste ter que passar por isso mais uma vez, não mais triste que a primeira vez, mas foi triste, a Detinha minha tia que fez o penteado em mim, tive dor no coração por ter que fazer ela passar por isso, me coloquei em seu lugar e me senti triste demais por ser ela... Me fiz forte, muito forte, engoli lágrimas como quem engole pedras, seria torturante demais para ela me ver de outro modo, então o que fiz foi abrir a torneirinha do besteirol e falei bobeiras e mais bobeiras, então ela raspou meu cabelo enquanto eu cantava adios muchachos compañeros de mi vida, me toca e mi hoy emprender la retirada... Pelo menos distraí o ambiente (rs!). 
A Fe disse uma coisa linda hoje, disse que as flores são podadas para se tornarem mais bonitas na primavera, então estamos esperando a primavera dos meus cabelos.
Babi do Pânico
Estou pensando nas figuras que conheço que também são carecas, ou que ficaram carecas, a primeira que me veio a cabeça foi a Babi do pânico, embora eu tenha achado ridículo o que eles fizeram, não o fato dela raspar os cabelos, ela raspa o que quiser, mas a ridicularização me mata e me ofende profundamente, só quem tem que raspar os cabelos por motivos alheios a sua vontade sabe o que é isso, e fazer da forma como foi feito foi no mínimo desrespeitoso, mas indignações a parte, não posso dizer que ela ficou feia, então fiquei me vendo no espelho, ainda em uma figura que não reconhecia, queria ver se eu tinha alguma semelhança com a Babi, a melhor definição é de que estou igualzinha a ela, só que em uma versão menor, menos bunda e menos peito...
Camila Morgado interpretando Olga Benário
Daí me lembrei da Olga Benário, uma jovem militante comunista alemã que se casou com Luis Carlos Prestes, amo a história dela, já li vários livros a respeito, ela é para mim tipo ídola, quem não conhece sua história pode assistir o filme Olga, é ótimo, então tem uma cena no filme onde ela já na Alemanha é entregue aos nazistas e tem seus cabelos raspados, me vi no espelho como a própria Olga, só que em condições muito melhores se levar em consideração que Hitler já morreu.
Tem também a Camila, personagem de Carolina Dieckmann, quem não se lembra e não se emocionou com aquela cena? Segue um remember no vídeo que postei.

E aqui estou eu aos prantos por ter acabado de assistir o vídeo, me odeio por isso!!!

Jackson de Vidas Opostas
Deixo aqui minha solidariedade aos companheiros de careca, como faz frio na careca! Gela mais do que pé e congela as orelhas! Agora sei a verdadeira função do cabelo, vou ter que providenciar urgente uma touca para dormir, apesar de achar que vai ficar uoh!
Hoje fiquei o dia todo assistindo filme, e quando a careca esfriava eu colocava a touca do moletom, foi a partir daí que o Thiago colocou mais um personagem para mim, o Jackson de vidas opostas, talvez não conheçam, mas eu e o Thiago adorávamos ele, ainda mais quando ele falava pô cara, você peidou na farofa! (rs!) Mas olha, looooonge do Jackson ser bonito, acho que o Thiago não me elogiou desta vez... Aff!

Boa noite!!
Beijos no coração!